quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A


"Pode a pedra branca latejar
no sangue do cervo
e o amor pode sonhar pelos
olhos de um cavalo."
Garcia Lorca





A, de Corinto


O nariz fura as quatro cortinas da noite
hálito de deus entre as pernas
espumas negras deste Mar
de saliva e sonhos

Sol nascendo frente ao Monte
até a lua desaguar em teu ânus de mel
dormindo
cheia de linguas
gosto sagrado da primeira vingança

Quando os touros mataram o profeta
das agulhas
nos montes de feno à beira-mar
a mulher lendo o meu sexo com os lábios
de Garcia Lorca
dizia os infinitos nomes da noite
onde se balançava entre a estrela e a lágrima
descrevendo o arco imponderável
do que os poetas não sabem dizer

Uma mulher que amarre estrelas
na cauda dos touros
e sugue os anjos nas tetas das vacas
cobertas à noite
uma mulher forte como um fogo ou um pênis
que afasta o vento com o bafo
profano
do cordeiro que fugiu do altar

Quero a mulher pura
que no fim dos tempos só ajuste
contas com o próprio sexo
que pise nas estrelas de propósito
e enfeite seu caminho com as
pegadas do sangue...

Com a dignidade de sair pelos
campos
colhendo pedras
que esconda em sua vulva
uma antiga piranha com meu nome

A mulher com a boca nos olhos
que feriu o pôr do sol
com o bico dos seios
cheios de ódio materno

Trepo nos altares
penetro o coração da pedra
quebro meu dente de vidro
na carne do mármore) moreno
dura feito o mar tempestado
que herdará a Terra
após os últimos amantes

Agarro as arestas do teu espanto
como o morto se agarra ao sono
como tu
guardiã dos testículos do sonho
com os olhos cheios de trigo
pastora de ossos
das crianças impossíveis

Olhos de mãe masturbando o filho
garganta de Armstrong

Tuágua inteira
terceiras metades de mim

Sacias meu corpo Todo
a sombra
de minha lápide