terça-feira, 3 de março de 2009

PERDÃO

Eu quero não amar o amor mais do que a amada
ir ao cinema sem espelhos
e ver somente um espelho
fazer a mulher gozar sem chorar e falar com Deus

quero ouvir Caetano sem pensar que é para mim
beber com os amigos e não por causa deles
e que a garotinha da rua pare de urinar
em minha alma

quero olhar para fora
andar com os pés no chão
sem arranhar as pupilas dos muros

eu queria que os mortos fossem embora
quero fechar os olhos para sonhar
abrir os olhos para enxergar
sem ver

que tirassem os alfinetes das mangas
maduras
não ter abelhas na virilha
queria não ser
e satisfeito ser eu mesmo
crer que sereias não existem mais
que o último dragão morreu de sono
e o unicórnio chifrou o espanto até
o país da agonia

dormir abraçando
coisas verdadeiras
e que as verdades não estivessem nos sonhos

despir a morte

Eu queria não ser poeta
e sou


Nenhum comentário:

Postar um comentário